Bom dia pessoal,
Estou já a 3 semanas aqui no Camboja, em época de final de monções. Lembro-me que quando era criança e aprendi sobre monções, fiquei impressionada. Bem aqui estou eu. Já não é terrível quanto em Julho e Agosto, quando chove muito mesmo. Agora chove todo o dia, umas 2 horas por dia, de uma chuva já não pesada, que traz alívio neste calor imenso daqui. Nunca fui muito fã de chuva, mas aqui tem um cheiro diferente, um gosto diferente. E a garotada aproveita viu?
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Crianças se divertindo nas monções |
Completei duas semanas trabalhando como professora de inglês numa pequena escola na parte rural. Não é mole não viu? Quem já passou pela experiência sabe o quão dispersos eles são e quão fácil é perde-los.... ainda mais quando não falam a sua língua! hahahahahaha Mas é muito gratificante e espero poder acrescentar algo na vida de pelo menos um deles.
Na sala de aula somos em duas: eu que ensino inglês, e uma outra professora, que ajuda a traduzir. Trabalhamos em dupla e é bem interessante.
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Uma das minhas turmas |
A escola fica num vilarejo chamado Po (simpático né?), parte do distrito de Takeo, bem ao sul do Camboja (aliás, olhando em retrocesso, quase que em todos os países fiquei pelo Sul....), quase fronteira com o Vietnã.
Para chegar lá tenho que pedalar 50 minutos ida e 50 volta, na parte rural da cidade, feita basicamente de plantações de arroz. Mas as vezes é complexo, ainda não decidi se é mais difícil com o sol rachando, com a chuva ou com o vento....... decididamente o mais difícil é com o vento no meio da chuva, logo após um sol escaldante, hahahahahaha, Pior é mesmo assim adoro. Doida né?!
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Minha bike super moderna, num momento pré-chuva |
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Modelinho diário: chapéu e oculos por causa do sol e máscara por causa da poluição/poeira |
A escola é novinha, foi fundada em Junho de 2010 pelo Sokha, um ex monge de 29 anos que, após sair da vida monástica, decidiu atuar na vila e comunidades ao redor de onde foi criado, ajudando as crianças.
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Sokha Treng - Fundador e Faz tudo da escola |
A idéia é atuar como um after-school program, o que significa que as crianças vão para a escola pública pela manhã e depois frequentam a escolinha. O conceito por trás disto é tirar as crianças do trabalho, pois era muito comum depois da escola elas terem que ajudar os pais nas plantações de arroz, e as vezes até acabavam largando a escola para trabalhar full time.
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Campos de arroz - verdinhos, lindinhos... |
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Arroz secando, assim, na estrada :-) |
Assim, ao proporcionar um complemento educacional, garante-se que a infância seja.... infância :-)
Lá, eles tem aula de inglês (aqui entro eu), matemática e computação, além de biblioteca e brinquedoteca, onde podem ficar o tempo que quiserem. É um programa bem legal, e em muito s aspectos parecido com a Mammadu na África.
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Crianças brincando no pátio e o vendedor de guloseimas sempre presente |
Como no Cambodia não existe assistência social dada pelo Estado, ou mesmo um sistema de saúde, a escola também ajuda as crianças quando precisam de atendimento médico particular. Além de fornecer comida para aqueles que passam fome.
A escola é bem simples, consistindo de um "galpão" aberto de madeira e teto de folhas secas, um tanto esburacado, então quando chove(ou seja, todo dia), é um problema :-) O negócio é ter sorte de não chover na hora da aula
Recentemente foi construída uma sala fechada, para a aula de computação, com computadores antigos de uma universidade alemã. Com esta doação os alunos podem ter a tal inclusão digital. A internet, no entanto, ainda está a espera de um benfeitor..... :-)
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Sala de computação, que serve também de recepção. |
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Dentro da sala, alunos compenetrados |
Também estão construindo, aos poucos, dependendo de doações, uma nova sala de aula, nos fundos da sala de computação. Assim aula garantida mesmo quando chover :-)
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Construção meio que parada no momento da nova sala de aula |
As crianças tem entre 6 e 17 anos de idade e a maioria vai a pé ou de bicicleta, embora alguns, maiorzinhos, as vezes conseguem uma moto e aí fazem o maior sucesso.
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estacionamento de bikes :-) |
A vila Po, assim como as demais que a cercam, é bem simples e as pessoas são bem pobres. Vivem basicamente da plantação de arroz. Quem tem terra, planta na sua, quem não tem trabalha para alguém. A terra não é boa para outras plantações, assim eles não conseguem plantar outras comidinhas, mesmo que para subsistência. Apesar de todos terem teto, são casinhas simples, pequenas, onde vivem com a família inteira.
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Quase todas as casinhas tem gado morando embaixo delas
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A pobreza aqui é diferente da pobreza que vivenciei na África. Lá, era um tipo de favela, bem pobre mesmo, mas perto de uma cidade grande, capital. Assim as crianças eram mais urbanas. Tinham o conceito de shopping, de parque de diversões, de museu etc.
Também o fato da Mammadu ser gerenciada por uma italiana, imprimiu um caráter mais ocidentalizado no tipo de educação. Além disso, pela própria cultura africana, tão perto da nossa, as crianças eram mais extrovertidas, falantes, curiosas. Era mais fácil chegar junto e se aproximar e travar amizade.
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Para chegar na escola |
Aqui a cultura é totalmente diferente. Estamos longe de uma cidade grande (90 km) e a pobreza é rural. Para se ter uma idéia, no primeiro dia estava me apresentando e em determinado momento eu disse que tinha 2 gatas. Vários me perguntaram: e vaca? e porco? galinha?
Isto faz parte do dia a dia deles, todos tem estes animais, mas é uma realidade bem distante da minha. Imagina, onde eu ia por uma vaca em SP?
Assim conceitos urbanos inexistem para eles. Até aprendem o que são, mas não conseguem materializar a coisa. Parque de Diversões, boliche, fliperama...... é tudo grego para eles.
O engraçado é que os livros didáticos são doações e quase todos vem da Inglaterra, aí os exemplos e exercícios são tão fora da realidade deles que fica até absurdo. Ontem, por exemplo, o capítulo era sobre passado e a história era de um garoto contando para outro como foram as férias na estação de esqui. Oi?
Outro fator de diferenciação é que são asiáticos, e assim, mais reservados e desconfiados. Acho que especialmente aqui no sudeste asiático (Laos, Cambodia e Vietnã) por causa do forte bombardeamento que sofreram pelo mundo ocidental, eles mantém uma distância segura da gente.
São simpáticos, conversam, mas é diferente do que foi na Ásia. Ainda não consegui chegar junto deles de fato, me aproximar.... a cada dia ganho um pouquinho mais da confiança deles mas e acho que 3 semanas serão poucas...
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A exceção são os pequenininhos, criança é delícia em qualquer nacionalidade. Estes vem, me abraçam (mas não gostam de beijo hahahahahaha) e me dão presentinhos (anelzinho, florzinha, desenhinho). Amo!
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Minha pichuquinha |
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Oferendas diárias :-) Amo |
O método de ensino também é bem tradicional, diferente do nosso, mais rígido. Consiste basicamente em escrever na lousa e faze-los repetir, mas as vezes eu duvido se eles estão realmente assimilando o que se está sendo dado, pois qualquer pergunta fora do "esquema" eles já não entendem...
O sotaque é outra barreira, pois, acostumados com o inglês britânico, as vezes não entendem meu inglês americano. Se bem que agora estou começando a "pegar" o sotaque deles e aí, tento falar como eles falam, mas é difícil.
Os admiro, pois estão aprendendo uma língua totalmente diferente, com outro alfabeto e sons que inexistem na sua língua. Bem mais difícil para eles aprender inglês do que para nós.
No caminho para a escola, sempre paro para tomar um caldo de cana de uma família que não fala nada de inglês, mas sempre me recebem bem :-)
Bom, semana que vem conto mais sobre a cidade onde estou, Takeo, e as viagens de final de semana que fiz :-)
Fica aqui meu pedido de ajuda ao Sokha e sua escola. Ele precisa de toda a ajuda possível: para terminar a sala de aula, comprar caderno, lápis e material escolar, reserva de caixa para as necessidades médicas etc.... Eu vou deixar aqui uma graninha para ajuda-lo e coloco aqui o link da escola dele para que, se puderem ajudar, o façam.
Qualquer quantia é bem vinda, mesmo USD10. Para se ter uma idéia as professoras ganham USD 30 por mês, assim USD 10 já é um terço do salário delas.
http://www.chdcambodia.org/donate-2/
CHD - Cambodia
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Uma das professoras |
Sei que o dólar está caro, mas se puderem, fica aqui já o agradecimento desta galerinha: