Bom dia pessoal, greetings daqui da Índia!
Bom.......por onde começar? Segunda feira passada cheguei por aqui. Apesar de brifada sobre os indianos, através de um excelente livro, presente de meu amigo Renato, nada poderia ter me preparado para Chennai. Nada.
É uma grande cidade, antigamente chamada de Madras (que particularmente acho mais charmoso), com mais de 8 milhões de habitantes e a capital do estado de Tamil Nadu.
Detalhe do templo Valleeswarar |
É uma grande cidade, antigamente chamada de Madras (que particularmente acho mais charmoso), com mais de 8 milhões de habitantes e a capital do estado de Tamil Nadu.
Foto Google |
A Índia varia enormemente em cultura, hábitos, vestimentas e línguas entre um estado e outro, assim tudo o que eu vou relatar aqui é baseado apenas neste pedacinho da Índia, embora algumas coisas possam ser generalizadas.
Como toda cidade grande da Índia, Chennai é caótica. Juro, a gente fala de São Paulo, mas SP é o paraíso na terra comparado com Chennai.
O transito é algo sem explicação. Eles encaram as regras de transito muito mais como uma sugestão do que deve ser feito do que uma regra em si, de maneira que sua interpretação é bastante flexível. Quer para no meio da rua para o garupa descer da moto? Tudo bem. Quer fazer uma conversão proibida? Tudo bem. Uma entradinha básica na contra mão? Tudo bem também.
Foto Google |
O resto nem se altera, desvia e segue caminho, tão acostumados que estão.
Sim, porque todosestão nas ruas, afinal não existem calçadas transitáveis, e, quando existem, estão tomadas pelos vendedores de tudo que você possa imaginar.
Foto Google |
E acima de todos: as vacas. As famosas sagradas vacas indianas que andam por onde querem na hora que querem e como dá um azar danado matar uma vaca, todos desviam prontamente das ilustres figuras, mesmo se elas desejaram dar um role nas rodovias.
Foto Google |
Assim, todo mundo andando na rua, numa louca coreografia que, de alguma forma, da certo, flui e todo mundo chega onde quer.
O transito louco é alimentado por uma mania que me disseram ser nacional: a buzina. Eles buzinam o tempo todo, por qualquer motivo. E se passam 5 segundos sem que alguém tenha buzinado, um vai buzinar somente para não perder o hábito.
Não que buzinar sirva para qualquer coisa. Todo mundo, as vacas inclusive, mantém o mesmo ritmo e direção que estavam antes da buzina, aparentemente inalteráveis. Mas a buzina é uma música constante e um tanto irritante, ao menos para mim (sempre achei que tenho ouvidos mais sensíveis que o normal).
Capacete é um objeto que acho que não existe por aqui. As motos e bikes viajam no estilo livre. Aliás, e comum ver motos carregando 4, as vezes 5 pessoas, todas sem capacetes, ziguezagueando pelo ensandecido transito.
Foto google |
Esta eu tirei depois que o pai deixou a esposa no ponto de ônibus. Detalhe: a menininha, de não mais de 3 anos, escalou sozinha a moto, sem ajuda, e saíram por aí felizes da vida.
Cena ocorrida em Mahabalipuram |
O ar é super poluído, mas raramente se ve pessoas usando aquelas máscaras que os chineses costumam andar. Eu ganhei uma tossezinha na garganta, acho que deve ser efeito da poluição...
Eles são limpinhos nas suas casas e comércio, sempre varrendo com uma vassourinha bem típica daqui
Foto Google |
Cuidam bastante da higiene pessoal, raramente se vê alguém com roupa suja, ou despenteado, com barba por fazer, são muito vaidosos.
Mas a noção de limpeza pública inexiste. As calçadas são imundas. Jogam tudo na rua o tempo todo e como, até onde eu tenha visto, coleta de lixo também não existe constantemente, fica tudo pelas ruas mesmo, numa sujeira danada.
As ruas que vendem produtos perecíveis, como comida, são as piores, pois os restos ficam se acumulando e acumulando e deteriorado, e o cheiro insuportável. Me admira não ver ratos e mais ratos andando pela cidade.
Somado a isto, os odores dos restaurantes e preparadores de comida, com seus fortes temperos, fazendo o ar ser uma combinação de cheiros muito peculiar, dificilmente ignorado.
Coloque nisto tudo um calor de 40 graus, uma umidade altíssima, que te faz suar em bicas o tempo todo e tem-se um quadro inicial chocante.
Foi assim que me senti: em estado de choque.
Poucas ruas são largas, a maior parte é estreita. É como se fosse um imenso largo 13, mas lotado de pequenas lojas (tem 4 metros quadrado, em média).
Rua de Chennai |
Tudo dá a impressão de ser inacabado. Não sei se eles começam e depois desistem, ou se é assim mesmo que é para ser, mas a impressão que se tem é que tudo fica pela metade, sem acabamento, meio relaxado.
Os restaurantes, cafés, lojas, clínicas médicas, tudo é meio descascado, não te chamado para entrar. Eu queria uma massagem, mas depois de ver o lugar, acabei desistindo. Para nossos costumes, parece não inspirar confiança.
Acho que somos um povo que compra o livro pela capa, e eles não. Seguramente acabarei me acostumando e ignorando este (in) acabamento. Tudo sempre é uma questão de trocar a lente com a qual se vê o mundo.
Eles tem templos em tudo quanto é lugar, sendo um povo bastante religioso. E para garantir que no seu caminho você não ficará sem um templo, existem estes mini templos espalhados quase que em cada esquina. Você está indo ou vindo de algum lugar, para num ambulante vendendo flores e faz sua oferta. Tudo muito prático.
Mini Templo na rua de Chennai |
Chennai tem um bonito templo, que gostei muito de conhecer: Valleeswarar. Como a maioria dos templos daqui tem um enorme "teto", cheio de detalhes sobre os deuses e demonios.
Foto google, a minha tava escura |
Tem diversas estatuetas representando os deuses pelo templo e, claro com todas as devidas proporções, me lembraram os nossos santos e orixás:
detalhe do templo |
Tem diversas religiões espalhadas pela India, mas aqui em Tamil Nadu a mais forte é o hinduísmo e gostam muito de Shiva, Parvati e Ganesha.
Devotas |
Não é possível converter-se em hindu, se nasce hindu, e acho que somente assim para se entender tão complexa religião, com tantos deuses e tradições. Os templos são relativamente simples (lembro-me que na Tailandia eram mais imponentes), mas coloridos e ricos em detalhes.
Devoto |
Na cidade de Mahabalipuram os templos datam do século VII e foram escavados em pedra, num trabalho lindo demais. Todo o conjunto de templos e monumentos foi declarado patrimônio da humanidade pela UNESCO
Foto google |
Detalhe do templo |
conjunto de templos |
A erosão está levando os detalhes embora, e com o tempo tendem a desaparecer, ensinando a todos a impermanência desta vida, e a necessidade de não apego. Tudo passa, tudo acaba.
Esta é uma cidade pequena e um paraíso, se comparada a Chennai. Menos pessoas, menos transito, menos tudo.
É uma cidade de pescadores, e isto se reflete na praia
vista da pousadinha |
De manhã e de noite dá para ver os barquinhos indo e voltando da pesca diária.
Tive a sorte de estar nesta cidade durante um período sagrado e acompanhar as pujas, oferendas feitas aos Deuses. Infelizmente o interior do templo, onde as pujas ocorriam, eram somente para os hindus e não pude ver, mas aqui uma foto google de como é uma oferenda:
Puja |
A cidade se enfeitou toda, com flores e luzinhas, e foi muito bonito de ver.
A Índia te demanda um alto poder de adaptação, e rápido. Seus odores, barulhos, sabores e tradições te exigem ao máximo, e você tem que, a cada momento, decidir se isto irá te irritar e te tirar do sério ou não. Se decidir que sim, você poderá passar o tempo todo tendo pitis
Por exemplo, eles raramente conseguem responder de forma específica a uma pergunta específica. Eles tem um jeito peculiar de mexer a cabeça que não é o nosso sim nem o nosso não, mas um meneio meio arredondado que é bastante gracioso, mas que quando você precisa de uma resposta definitiva e te dão este meneio, você meio que fica sem resposta. Depois de um tempo você acaba percebendo que, na maioria das vezes, este meneio significa positivo, mas cada caso é um caso....
Outro hábito: Você pergunta onde é tal lugar e eles fazem um vago gesto com o braço indicando “ali na frente”, mas não a direção exata da coisa. E como eles nunca dizem que não sabem algo, este gesto da mão não é 100% confiável, e as vezes você pode levar muito tempo para achar o que busca, seja uma rua, o ônibus que deve tomar, um restaurante.....
Os horários dos ônibus também são aproximados. Por exemplo, de Chennai para Mahabalipuram, a única informação existente é que o ônibus passa de 1 em 1 hora, mas não a hora em si. Ou seja, pode ser que você fique 1 hora esperando o próximo (se ele não se atrasar), no sol quente, suando em bicas.
Tudo é um exercício de paciência e de manter a calma interior no caos exterior. A Índia é curso avançado de desenvolvimento espiritual :-)
A comida é algo que estou provando aos poucos, pois é bem forte, e não quero dar (mais) um choque ao meu organismo. Já provei coisas muito boas (Samosa, Mosa, Idly) e tudo é comido (e servido) com a mão, Outra adaptação.
Mas em geral, com este calor todo, não sinto fome durante o dia, comendo somente de manhã e a noite. Acho que já perdi os sorvetes que comi na Itália.
Mas se você entra na onda deles, e aprende a ignorar estas coisas e não se deixar abalar (como eles não se deixam), verá que é um povo interessante, simpático, sorridente, atencioso, enrolado e bastante curioso.
Foto google |
Te perguntam de tudo: de onde você é, porque está aqui, se está gostando, qual comida você mais gosta, no que trabalha, se é solteira etc. No meu caso devo causar uma confusão na cabeça deles: mulher viajando sozinha.
Isto não existe entre os indianos que viajam sempre em bando. Eles fazem muito turismo no próprio país, mas mulher viajando desacompanhada? Nunca!
Com isto ando bastante atenta nas ruas e tento me expor o menos possível. Roupas largas e compridas (o que me mata de calor). É difícil achar o balanço entre manter-se alerta e ao mesmo tempo aberta ao convívio e a descobertas. Pois também se eu não falar com ninguém (e são somente os homens que falam com você) perco a oportunidade de me relacionar e conhecer um pouco mais sobre costumes e cultura. Acho que meu balanço ainda é conservador, mas prefiro ir devagar com o andouro e conhecer aos poucos as regras não ditas daqui.
Aqui no sul eles ainda se vestem de maneira bastante tradicional e quase todas as mulheres usam o sari. Me disseram que no norte já não se usa mais estas roupas, apenas em ocasiões especiais, então acho que tive sorte, pois é muito bonito e colorido andar pelas ruas e ver tanta diversidade na maneira de se vestir.
Meninas em sari admirando o mar da baia de Bengala |
Aliás o dress code daqui também é uma contradição: não se pode mostrar os ombros ou as pernas, mas a barriga, que mal se esconde num sari, tudo bem. Vai entender...
Bom, para as mulheres, além do sari, é comum ver um tipo de bata usada sobre calça. É bem prático e parece confortável.
foto google |
Já os homens usam muita calça comprida e camisas de manga comprida, mas alguns usam esta saia que me parece bastante apropriada para o calor daqui
Em muitos aspectos a India lembra o Brasil, até mesmo na TV. Adoram as novelas e lá a cor das pessoas é quase branca, enquanto nas ruas todo mundo é marrom escuro. Lá falam Hindi, mas aqui fala-se Tamul. O ideal de beleza é magro e claro, mas nas ruas são gordinhos e escuros.
A índia é um país de tradições e contradições, moderna e antiga, tecnologia e atraso, que te surpreende a todo o momento.
Dizem que ou você ama ou odeia e que leva de 2 a 3 semanas para você finalmente perceber em que extremo está. Acho que é o tempo de acostumar-se com o choque inicial e abrir-se para a beleza que existe, permitindo-se ver outro mundo, outros hábitos, outro tudo.
Eu ainda não amo a Índia, mas estou me acostumando, ainda apenas arranhando a superfície de tão complexo país. Acho que na verdade nunca se compreende a Índia, a menos que seja indiano.
Estou agora em Podicherry, cidade também costeira, assim como as anteriores, mas de influência francesa, o que deixou uma arquitetura diferente, ao menos na parte mais próxima do mar.
Praia rochosa de Podicherry |
O mar daqui é o Bengala Bay (Baía de Bengala), de fortes correntezas e agradável temperatura (embora eu não tenha entrado na água, apenas colocado os pés). O Ganges é um dos rios que desemboca por aqui, assim não sei se é bom entrar no mar ou não, mas acho muito legal estar na Baía de Bengala
Hoje foi a celebração da independência, e as ruas estavam lotadas de gente, todas felizes, celebrando. Fiquei vagabundeando por aí, absorvendo a energia positiva que emanava delas.
E como não poderia deixar de ser uma foto de uma estátua de Gandhi.
Semana que vem vou para Auroville, onde ficarei trabalhando por um tempo. Não sei se terei internet lá, então, quando der, conto como foi.
Desculpe o grande do texto, mas a Índia não pode ser resumida em poucas palavras.
Beijos,
Estou adorando a Índia é como eu estivesse viajando co vc, os monumentos são maravilhosos mas a saudades continua um grande beijo.
ResponderExcluirGabi até agora gostei de todos os lugares em que vc esteve, mas a Índia, não gostei não. Não iria para ai de jeito nenhum. Cuide-se. Saudade. Bjs
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