domingo, 30 de agosto de 2015

Sadhana Forest - Um estilo de vida sustentável.

Bom dia pessoal!

Bom, o tempo voa não importa onde estejamos, e já fazem 3 semanas que estou na Índia! Incrível não é? Completaram-se também 4 meses de viagem, e a famosa "crise" desta época.

Funciona assim: ao redor dos 4 meses as coisas deixam de ser super novidade e bate a saudade de casa..... Isso aconteceu comigo. Senti uma saudade danada da minha casa, dos amigos, família, gatos, rotina, língua, comida...... do aconchego. Um dia foi tão forte que até caíram umas lagriminhas.

Sabendo que é uma fase comum e temporária, não me preocupei. Vivenciei-a e aceitei-a como veio... mas mesmo com esta crise, com a saudade, não senti vontade de voltar. Amo cada detalhe da minha viagem e só quero é mais!



Nestas duas últimas semanas estive voluntariando aqui na Índia, num lugar chamado Sadhana Forest, parte de Auroville.

Auroville foi criada em 1968 e é uma cidade universal, ou seja, está na Índia mas não é bem Índia. A idéia é que pessoas do mundo inteiro possam viver em paz e harmonia e união, independentemente de suas crenças, religiões, tendencias políticas ou nacionalidades. Tem uma população de mais de 2 mil pessoas, sendo que um terço é indiana (o que achei bem legal).


Auroville vista de cima, interessante!!!

Apesar da Sadhana fazer parte de Auroville, fica fora do centro da cidade, o que a torna bastante independente e com personalidade própria. O projeto Sadhana iniciou em 2003, quando Yorit e Aviran se tornaram responsáveis por 70 acres de terra, completamente árida e degradada. Seu objetivo: reflorestar esta área com a vegetação nativa (Tropical Dry Evergreen Forest).


Foto Google de uma área bem degradada. Sadhana era assim!

Por algum tempo tentaram, sem muito sucesso, plantar as mudas de árvore, que acabavam não vingando e morrendo. Perceberam então que a missão de reflorestamento seria impossível pois toda a chuva existente passava pela terra árida sem de fato penetra-la e aí começou um dos grandes pilares do projeto: conservação de águas.

Usando uma série de técnicas da permacultura foram capazes de, ao longo dos anos, aumentar em 6 metros o nível das águas dos lençóis subterrâneos. Isto favoreceu não só o projeto, com a possibilidade de crescimento das árvores plantadas, mas os vilarejos ao redor, que passaram a ter mais água para seu uso diário. Legal né?

Hoje a área está assim, com mais de 30 mil árvores plantadas, e uma taxa de sucesso de 85%! Orgulho de estar fazendo parte deste projeto.


Caminhos de Sadhana
A vida aqui é bastante simples, baseada em alguns princípios e bastante organização:

1 - Veganismo - Gente, sou vegetariana mas não vegan. Sempre achei que seria muito difícil ser vegan, afinal, o que eles comem? Mas a comida daqui é incrível, variada e diversificada, totalmente orgânica e saudável. São 3 refeições diárias maravilhosas. É super possível comer bem e ser vegan ao mesmo tempo.

E não é só na comida que o veganismo se baseia: nos comesticos e vestuários também. Assim usamos apenas produtos biodegradáveis, de baixo impacto no meio ambiente, e que não tenham sido feito, ou que não tenha sido usado nenhum componente animal em nenhuma etapa produtiva. Totalmente animal friendly!



Não sairei daqui vegan, mas repensarei alguns hábitos de consumo, e sei que, um dia, passarei do vegetarianismo para o veganismo. Faz todo o sentido.

2 - No competition - A ideia aqui é estimular o senso de comunidade, de união, e não a competição. Assim nenhum tipo de competição é bem vinda, nem mesmo nos jogos. É sempre estimulada a cooperação.

Adorei, e acho que de fato nossa sociedade se baseia muito na competição, na hierarquização, nos ganhadores X perdedores, e com isto apenas nos isolamos cada vez mais, diminuímos o senso de comunidade e participação.

3 - Humanity - Aqui é o mesmo princípio de Auroville: aceitar a todos como são. Sem comentários, super a favor.

4 - Substances free - enquanto permanecemos aqui, sem álcool ou tabaco ou qualquer tipo de droga. 100% saudáveis e lúcidos.

5 - Unscholing - É uma filosofia que defende o não envio das crianças para a escola para não serem " enquadradas" no sistema competitivo e massacrante, que não valoriza a identidade única ou a criatividade. Propõe que a criança aprenda através de métodos naturais e de acordo com sua própria curiosidade, cabendo a ela decidir o que quer estudar.



Achei estes um dos princípios mais controversos. Aqui conheci duas crianças que seguem este princípio, filhos dos fundadores. Uma menina de 14 anos, que neste ano decidiu ir pela primeira vez a escola, e sua irmã de 9 anos que nunca foi.

A menor, com quem tive mais contato,  é uma menina super ativa, que está aprendendo a tocar um instrumento musical, fala 3 línguas, é super articulada, conversa com você com mega desenvoltura, e agora está aprendendo muay thay. É uma fofa e super inteligente, mas não sabe ler ou escrever, pois nunca se interessou por isto.

Acho a idéia interessante, mas não tenho uma opinião formada sobre isto. Talvez eu já tenha sido "escolarizada" demais...


6 - Gift Economy - Aqui a idéia é a troca e doação de coisas e produtos que já não quer mais, assim, quem precisa deles pode usa-los. É uma redução de trocas monetárias e desperdícios. Em SP já tem diversas iniciativas deste tipo (como o site "tem açúcar?"), e acho super legal. Aqui funciona através de uma loja grátis, onde você pode pegar o que precisa (sapatos, roupas etc.) e deixar o que não precisa. Esta sendo muito útil para mim, que estou usando algumas das roupas de lá!


7 - E, claro, conservação de águas - Aqui tudo é feito e pensado para a maior economia possível de água e maximização de recursos.... tudo é economizado e reaproveitado.

As torneiras e banheiros são pensados para usar a menor quantidade de água possível, e nossa produção diária no toilete vira adubo!

Torneira para lavar as mãos: usa apenas 0,5 litros por minuto contra 7 litros da torneira convencional.


Benheiro: usa apenas 1 litro de água por dia contra 30 litros por descarga na privada convencional.
O banho é de balde e canequinha, também para econimizar a água, e toda a água usada é canalizada para irrigar as plantas ao redor. Tudo muito eficiente, e, mesmo concordando 100% com tudo, confesso que sinto saudades de uma privada convencional e uma boa ducha!

Aqui a gente realmente se sente parte de uma comunidade, uma experiência nova para quem, como eu, vem de uma cidade grande onde não conhecemos nem os nossos vizinhos. Tudo é feito em conjunto e para o bem comum. Está sendo uma experiência muito interessante e recomendo aos aventureiros de plantão vir conhecer e participar deste lugar.

Acho que tive um pouco de sorte também, pois a comunidade pode ter mais de 100 pessoas, mas, por alguma razão, durante minha estadia estava bem pequena, com umas 30 pessoas, assim era fácil achar um espaço vazio quando minha necessidade de privacidade falava mais alto. Não sei como eu teria me sentido se não conseguisse estar nunca sozinha....


Este é a nossa rotina diária. acordando as 5:30 da manha com alguém tocando violão, uma maneira bem gentil e melhor que despertador. As 6:00 nos reunimos no que eles chamam de Morning Circle, para alongamentos e abraços coletivos, e saímos energizados para a primeira parte do trabalho, que é na floresta.

Pode envolver plantar árvores, regar árvores, fertilizar o solo com compostos orgânicos, fazer trincheiras para preservação das águas e até mesmo a manutenção das estradas.

Abaixo uma sequência do trabalho de manutenção da estrada


Primeiro retirando a lama, depois preenchendo o buraco causado pelas chuvas com pedras e terra para, finalmente, ter a estrada prontinha para ser usada novamente










As vezes é cansativo, sempre é suado, mas é muito legal e gratificante :-)

A segunda Seva normalmente é dentro da comunidade e não na floresta. Pode ser cozinhar, limpar, cuidar do jardim, dos compostos orgânicos, dos banheiros naturais, dos painéis solares, das construções, ou qualquer outra coisa que a comunidade esteja precisando.

Cozinha depois de limpinha
Estação de lavar a louça. A limpeza é feita com cinzas (aproveitadas da lenha do fogão) .

Simples, gostoso e não muito cansativo. Estou amando!

Dormimos num dormitório coletivo (a menos que você seja um voluntário de longo prazo, que fica aqui por mais de 6 meses e aí tem um dormitório individual).

A rede é essencial aqui! Mosquitos vorazes hahahahaha
A noite temos uma programação especial. Nas segundas é dia de "sharing", e qualquer um pode compartilhar com o grupo o que quiser. É legal pois se conhece um pouco mais a história de cada um.

Nas terças temos sempre um eco-movie, um filme que fale sobre um dos princípios da Sadhana. Eu assisti TAP, que fala sobre o problema da água no mundo, e super recomendo (TAP THE MOVIE); The economics of Happines, que é muito interessante e me fez pensar sobre coisas de forma diferente (Trailer oficial do filme) e Maidentrip, um filme sobre Laura Dekker, uma garota que aos 15 anos partiu sozinha para uma viagem ao redor do mundo, em seu barco (e eu aqui, chamando a minha viagem de coragem hahahahahaha). Este filme é sobre unschooling e também é bem legal. Pode-se ver este documentário no netflix.

Nas quartas temos o open stage, onde quem tem algum talento pode se apresentar. Pode cantar, tocar música, dançar, recitar.... qualquer coisa

Son e Qing se apresentando

Galera escutando
Eu, com tantos talentos desenvolvidos, fiquei na dúvida sobre o que apresentar e acabei não apresentando nada hahahahahahahahahaha, mas a galera manda super bem e sempre é uma noite agradável.

Quinta é livre, não temos jantar, então normalmente vamos comer juntos em algum restaurante por perto.

Eba, a comida chegou!
Thali, prato típico daqui, muiiiito bom!
As sextas recebemos visitas de quem queira nos visitar. É feito um tour pelo lugar, contamos um pouco da história, vemos um filme (assisti a Rudolf Stein parte 1, vou perder a parte 2, infelizmente) e jantamos.

Início do tour pela Sadhana
Sábados e domingos são bastantes livres, temos em geral apenas uma Seva. Todo mundo aluga uma motinho e saímos, as vezes juntos, as vezes separados, para cuidar da nossa vida.

Não querendo ficar de fora, também aluguei uma. Não é bem uma moto, pois não tem marcha. Eles chamam aqui de scooter. O cara que aluga é super tranquilo, me alugou mesmo eu não sabendo dirigir, e ainda me ensinou como fazer, hahahahahahahaha.

O primeiro dia fiquei somente por aqui, treinando, indo e vindo, até pegar um pouco de segurança para me aventurar mais além. Hoje já vou e volto de Auroville, o que me trouxe muita independência, mas não me aventuraria pelas cidades, permaneço apenas nos vilarejos. O maior obstáculo aqui são as vacas, que decidem simplesmente atravessar as ruas, sem aviso prévio e nem mesmo uma buzinadinha!



Sim.... passei eu também a buzinar ruas afora. E percebi que eles buzinam não para que o outro saia da frente, mas para sinalizar que estão passando. É assim que se mantém seguros e fluindo.

Mas ando devagarzinho, um pouco mais rápido que uma bike apenas. Se combinamos de ir a algum lugar eu tenho que sair 15 minutos antes da galera, pois vou assim, tranquilinha, devagar, focada e... segura.

Outra coisa legal que dá para fazer aqui é mergulhar no lago de lama. No começo fiquei meio assim, tipo...lama? Mas é bem gostoso, geladinho, refrescante e, de quebra, faz bem para a pele.

Mud Pool, refrescante.
E assim, entre trabalho e lazer, meditação e Ioga, passei duas semanas muito legais por aqui. Quem quiser conhecer mais sobre este projeto, é só clicar aqui SADHANA FOREST

Quarta feira parto para uma estadia de 4 dias em um Ashram, fazendo o que quer que seja que as pessoas fazem em um Ashram, aí conto para vocês.

E para não perder o hábito, uma foto das minhas crianças da Mammadu, se divertindo no boliche


Um beijo e até!

Um comentário:

  1. Gabi estou adorando a Índia pois é um lugar bonito, mas também com muitas saudades um grande beijo.

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